ARTE SACRA: São-joanense Orquestra Ribeiro Bastos, 200 compromissos por ano 32b3t


Cultura

José Venâncio de Resende 28/05/20250 1e1129

Orquestra Ribeiro Bastos na quarta-feira santa após o Ofício de Trevas, na igreja do Carmo (foto arquivo ORB)

A setecentista Orquestra Ribeiro Bastos (ORB), que tem repertório cem por cento sacro, presta serviço musical para solenidades (festas) de quatro irmandades de São João del-Rei: Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos os, Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento, Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis e Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo.

São 200 compromissos por ano, segundo o maestro Rodrigo Sampaio, que também é o presidente da ORB. O expediente normal é de três missas semanais (quinta-feira, sexta-feira e domingo), um ensaio do coro (segunda-feira) e um ensaio geral, coro e orquestra (aos sábados).

 

Festa dos os

No calendário de solenidades abrilhantadas pela orquestra, a primeira do ano são as Comemorações dos os, também conhecidas como Festa de os, que, em São João del-Rei, acontecem antes da Semana Santa (Quaresma), acrescenta Rodrigo Sampaio. Assim, a ORB participa ativamente da Festa dos os que é dividida em três partes.

Na primeira parte, acontecem três Vias-Sacras solenes nas ruas do centro histórico da cidade, com paradas nas Capelas-os (meditações e apresentações musicais); na segunda, o ponto alto é o quarto domingo da Quaresma (depósito das imagens de Nossa Senhora das Dores e do Bom Jesus dos os nas igrejas do Carmo (este ano, do Rosário) e de São Francisco de Assis), com rasouras (pequenas procissões), missas solenes, o encontro e o retorno das imagens à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar (este ano, à igreja do Carmo); e, na terceira parte, o Setenário (orações e cânticos sobre as sete dores de Maria).

A ORB toca na missa e nas orações do “Setenário das Dores” e no dia maior, que se chama “Soledade de Nossa Senhora”. Essa é a maior festa (em tempo cronológico) em que a orquestra se apresenta, segundo o maestro Rodrigo Sampaio. A programação, que é realizada tradicionalmente na Catedral do Pilar, em 2025 foi transferida para a igreja do Carmo devido às obras de restauro da matriz.

 

Semana Santa

A Semana Santa, segunda solenidade anual abrilhantada pela orquestra, é a principal do seu calendário de compromissos (apresentações), pois nela se celebra o centro da fé cristã: a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo. Começa no Domingo de Ramos, ando por diversas celebrações no decorrer da semana até o seu término, no Domingo de Páscoa. A ORB participa de 16 celebrações, entre o Domingo de Ramos e a Páscoa, com exceção da missa do Crisma, segundo o maestro Rodrigo Sampaio.

São três Ofícios de Trevas (que acontecem apenas em São João del-Rei), cinco missas solenes (Ramos, Ceia, Paixão, Vigília Pascal e Ressurreição), três procissões (Ramos, Enterro e Ressurreição), duas Vias-Sacras solenes internas (igreja) e ainda Lavapés, Sermão das Sete Palavras e coroação de Nossa Senhora.

 

Outras solenidades

O calendário anual de solenidades prossegue com as festas de Corpus Christi, de Nossa Senhora do Carmo, de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora da Conceição. A Ribeiro Bastos atua em todas essas festas, conta Rodrigo Sampaio.

Há um repertório próprio de música sacra clássica para cada uma dessas solenidades. Por ser executado tradicionalmente, tal repertório é mantido graças à participação dos músicos mais experientes, que “garantem” a sua execução com o mínimo de ensaios possível, explica o maestro da ORB.

 

Compositores brasileiros

No repertório comum, há obras maiores (em duração e dificuldade) de compositores brasileiros, que são executadas regularmente nas missas de domingo na igreja de São Francisco. Esses compositores são patronos das cadeiras da Academia Brasileira de Música, de acordo com Rodrigo Sampaio. Assim, “quem assistir às missas de domingo ouvirá obras de compositores nascidos naquele mês”.

São compositores, como Francisco Manuel da Silva (nascido em fevereiro de 1795), Carlos Gomes (nascido em julho de 1836), Padre José Maria Xavier (agosto de 1819), Elias Alvares Lobo (agosto de 1834), Padre José Maurício Nunes Garcia (setembro de 1767), o imperador D. Pedro I (outubro de 1798) e Lobo de Mesquita (outubro de 1746). Assim, há caso em que mais de um compositor é tocado em um único mês.

Uma curiosidade envolve a missa de Nossa Senhora do Carmo, de autoria do imperador D. Pedro I, em 1822. Esta missa teve seu nome alterado para Missa in honorem Leone Duodécimo, muito provavelmente dedicada ao Papa Leão XII, que assumiu o papado em 1823.

 

Sobre a Orquestra

A ORB existe desde o século XVIII, mas tem origem incerta, que remonta à prestação de serviço musical para as irmandades desde a fundação delas. Na gestão do patrono da orquestra, Martiniano Ribeiro Bastos, também havia a banda de música, que fazia apresentações profanas. Essa banda durou até 1902, quando houve a divisão e surgiu a Banda Theodoro de Faria, com a Ribeiro Bastos encerrando suas atividades como banda de música.

Atualmente, a orquestra gira em torno de 60 músicos, com três apresentações (missas) semanais. São de 20 a 25 músicos nas missas de quinta-feira e de sexta-feira e de 35 a 40 músicos nas missas de domingo. Nas solenidades, chegam a atuar 80 músicos em sistema de rodízio.

Rodrigo Sampaio faz parte da Ribeiro Bastos desde 2013, como maestro e presidente. Bacharel e licenciado em piano, inicialmente cantava no coro no naipe dos baixos da orquestra. O coro é formado por soprano, contralto, tenor e baixo.

Além do coro, a orquestra é formada pelos naipes das cordas e dos sopros. No caso das cordas, violinos I e II, viola, violoncelo e contrabaixo. Já os sopros são compostos por flauta transversal/oboé, clarinete, trompete, trompas em fá e bombardinos.

Os músicos da ORB são voluntários, pois “é uma orquestra amadora, no sentido de que seus músicos não recebem para atuar”, define Rodrigo Sampaio. “Porém, a orquestra procura fazer um trabalho artístico-musical de excelência como um grupo profissional, o que só é possível pelos talentos e pela longeva participação de seus integrantes.”

A ORB é subsidiada pelo serviço musical prestado às irmandades e recebe pequeno apoio do poder público. Para Rodrigo Sampaio, “temos um tripé que faz com que o músico participe da orquestra: a fé, o social (espécie de “família”) e o artístico. É por isso que a orquestra não acabou até hoje”.

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